Sou dessas pessoas que não tem guarda-chuva. Já percebeu que este é um tipo de pessoa? Não ter guarda-chuva é uma escolha complexa e poucos pensam sobre isso… Já pertenci ao outro lado, já tive um guarda-chuva preto desses chiques e automáticos. Mas como todos: ele quebrou.
Em auto proferido poder de palavra, afirmo que nós, os que não têm guarda-chuva, somos pessoas intensas e sensíveis. Gostamos de sentir a chuva, a água que limpa e magicamente afasta os maus olhados… Gostamos de lidar com o acaso como um amigo, digo sempre que vou… Quando a chuva diminuir.
Nós somos pessoas sensíveis à energia do universo. Sabemos intimamente por intuição, qual caminho é o melhor. Muitas vezes é o caminho mais difícil, justamente o que por acaso, nos ensina mais e melhor. Somos livres de espírito e seguimos o ritmo da natureza. Intimamente ligados ao momento presente.
Como um ex-portador de guarda-chuva, posso itir que eu não sabia o que era viver… Eu era tão comedido e preocupado. Já ligava pra um taxi ou outro meio de transporte, um que não envolvesse pular poças d’água e ser molhado em desprevenido. Meus encontros eram programados e tão chatos. Eu chegava seco, aparentemente intacto. Um homem que não se comovia com a água que cai do céu.
Além da guerra pateta de sombrinhas e guarda-chuvas nas calçadas. Eu segurava firme e dirigia fugindo de várias colisões entre as arestas. E algumas vezes de belos duelos à espera do ônibus de todo dia. Sair na chuva era agitado e muitas vezes eu me forçava a estar ali.
Mas calma, eu sei que parece perfeito ser alguém que não tem guarda-chuva. Mas existem detalhes, pequenas nuances no existir que nos confrontam a todo o momento. Pois mesmo que eu ame ver as gotas de chuva caindo entre as folhas das árvores, eu por vezes me deparo com misteriosas poças d’água, onde eu preciso escolher se o ou dou a volta, preciso decidir se ela é profunda ou rasa. É angustiante e ensina mais sobre nós que sobre poças. Pois eu sempre olho pro mundo de forma diferente a cada poça d’água que encontro no caminho.
Por vezes também, somos os centros das atenções, de alguma forma parecemos livres à quem se esconde. Somos chamados de loucos e outros nomes, tudo por sentir a água purificadora, que quando não em tempestade, acalma anseios. E sempre há o, porém. O acaso que por acaso, não sabe se decidir. Não sabe se chove ou não.
Você estaria preparado? É de grande entrega viver assim sem apego ao conforto. Exposto ao acaso, ao efeito do tempo. Pois é só vivendo que se sente. É só se permitindo que se compreende. É só chuva. Vamos a pé.
Autor:
César Felipe de Sousa
Inspirador?
Parabéns, ficou maravilhoso.
Parabéns, muito bom!!