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terça-feira, 27 de maio de 2025

86.119, o gigante da Mar Paulista

O relógio da parede marca 5:30 hrs da madrugada… Luiz, o cobrador, espera pela chegada do senhor Afonso, piloto do 119… a saida da garagem está marcada para 5:40, com a primeira viagem, com partida do Refúgio Santa Teresinha (embora o letreiro marque Pedreira) às 6:00hrs. da manhã… finalmente o senhor Afonso aparece na porta da garagem, faz um sinal para Luiz, que recolhe as fichas de horário e o relatório de trabalho. Os dois se dirigem para o patio, onde os carros estão estacionados. O 119 é o ultimo dos Alfas a sair, seus irmãos já estão rodando desde as 5:00 hrs… todos os Alfas são carros de linha direta, ou seja, trabalham apenas com uma dupla. São doze, ao todo. Começa com o 109 e vai até o 120. Trabalhar com estes veículos é apenas para os melhores. São carros muito especiais para a empresa, tanto que eles só circulam durante a semana, de segunda a sexta feira… e nos finais de semana, ficam quietinhos no pátio.

Nessa hora o pátio já está praticamente vazio, pois a maioria dos carros já foram para seus pontos iniciais. O piloto verifica o óleo e a água do carro, checa os pneus para ver se não tem nenhum furado e finalmente liga a chave da bateria, para poder dar partida e sair do pátio. O barulho do motor lembra aqueles carros rodoviários cortando as estradas sem fim. Lentamente o verículo vai entrando na Sabará, e segue em direção a Alvarenga. Pára no cruzamento da Interlagos, espera o sinal abrir. Finalmente, devagarinho, o carro vai ganhando terreno. Sem pressa, Afonso vai trocando as marchas do carro, acionando os dois cambios cruzados. Ele sabe que não pode errar o tempo, ou então terá que parar totalmente o veículo e reiniciar sua saida… curioso, Luiz senta-se no primeiro banco do veículo e fica observando seu parceiro conduzir a máquina…

Finalmete chegam no pnto inicial, depois de vencerem a Sabará e a Alvarenga. Tem ainda mais alguns carros em sua frente, mas estes já estão em sua segunda viagem. Luiz leva seu relatório para o fiscal de tráfego em serviço no ponto, este olha os carros que estão parados, esperando sua vez para sair, e decide que a primeira viagem do 119 será até o Peg Pag, na Praça Dom Gastão. Entrega as placas do itinerário para Luiz e pede para que o motorista posicione o veículo no ponto, já apinhado de pessoas esperando para embarcar. Luiz se posiciona em seu caixa e a a receber os ageiros, tomando cuidado para não errar o troco, nem deixar alguém ar sem que pague a tarifa correta. Finalmente a fila termina, o motorista fecha as portas do coletivo, e começa a primeira viagem do dia. O carro já está lotado, mas ainda pegará mais ageiros pelo caminho. Quando chegam ao quarto ponto, já tem ageiros pendurados na porta… Luiz até tenta incentivar os ageiros a dar “um inho para a frente”, mas dar inho para onde? Todo espaço do veículo já está tomado, e se alguem levanta o pé por um momento, já não consegue colocá-lo de volta no mesmo lugar… com o carro lotado, Afonso começa a trafegar pela esquerda, pois sabe que não tem como colocar mais nenhum ageiro no veículo… finalmente, depois de rodar algum tempo, consegue fechar a porta traseira, e o pessoal que estava pendurado nos degraus até a pouco tempo se recosta na mesma, conseguindo assim recobrar um pouco do fôlego perdido durante o tempo que teve que se segurar para não cair do carro em movimento…

O 119 vai cortando seus irmãos, tanto os destinados à cidade quanto os “vira”, que são os ônibus com destino ao centro de Santo Amaro. De vez em quando cruza com algum dos carros da Viação Represa…ah, sim, a Viação Represa tem apenas sete carros, numerados de 561 a 567… eles fazem final na Rua Barão do Rio Branco, em Santo Amaro e vão até o Acampamento dos Engenheiros, em São Bernardo… do trecho da Alvarenga e Sabará, até chegar no cruzamento da Interlagos, ele vai encontrando os carros das linhas 675, que vão até Santo Amaro… São o Refúgio Santa Terezinha, Vila Guacuri, Pedreira e Jardim Ubirajara… os carros da linha 673, que são o Pedreira – Largo São Francisco e Parque Santa Amélia – Largo São Francisco… além, é claro, da linha São Paulo/Santo Amaro – São Bernardo/Acampamento dos Engenheiros, explorado pela Viação Reprêsa, que era apenas a outra denominação da Mar Paulista, para poder fazer a linha interurbana… até o cruzamento com a Interlagos, o reinado absoluto era da Mar Paulista…

Finalmete alcançam o cruzamento. A partir dali, além da Marpa, correm também os carros da Viação Rio Bonito. São carros que vem do Rio Bonito e da Cidade Dutra com destino a Santo Amaro e a Praça das Bandeiras. Quanto a Marpa, ela encontrará os carros que ficam lotados na Zavuvus, atualmente chamada de Yervant…o controle desses carros, que fazem a linha 644 – Jardim Luso – Santo Amaro e 644- Vila São Pedro – Santo Amaro (sendo que essa segunda linha não vinha até a Interlagos, os carros entravam na Avenida Sargento Geraldo Santana, para ar a Vila São Pedro) era da antiga garagem da Viação Missionária… os carros só vinham para o pátio principal quando tinham que fazer uma revisão completa…

Finalmente, após vencer toda a extensão da Sabará, o carro ganha a Adolfo Pinheiro… metade do percurso foi vencida, e os ageiros começam a descer em seus pontos. Quando o carro chega próximo da Divena, que fica no cruzamento da Avenida Santo Amaro com a Avenida Morumbi, o carro já está quase vazio… não há mais ageiros em pé, todos estão sentados… O carro para no semáforo. Luiz fica irando os ônibus em exposição no pátio da concessionária e fica imaginando se algum dia poderá ter um daqueles carros só para ele… sonhar é permitido, não é mesmo? O sinal abre, o carro continua sua viagem e finalmente alcança seu ponto final.. o Peg-Pag! Os últimos ageiros descem, Luiz fecha o relatório da viagem, entrega para o fiscal do ponto, e se preparam para retornar ao ponto de origem. Essa foi só a primeira viagem do dia… até as oito da noite terão pelo menos mais três ou quatro viagens para fazer, sendo que as próximas com certeza terão como destino o Largo São Francisco, quando então o 119 subirá a Brigadeiro, como seus irmãos já fizeram nessa manhã…

Autora:

Tania Miranda

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