Toda profissão tem seu vocabulário próprio, que poucos compreendem. Já ouviu falar em juridiquês, economês ou futebolês? Poucos sabem o que significam: “Data Vênia” ou “Cônjuge Varoa”; “Come-cotas” ou “Liquidez Seca”? Você consegue entender a narração: “Meteu uma caneta, depois uma carretilha, armou a bomba, mas deu só uma cavadinha na orelha da bola que foi parar na bochecha da rede”. Agora, o que não se justifica são os termos utilizados nas receitas culinárias. Na alta gastronomia, ainda vá lá. É coisa chique e precisa justificar o preço. Mas na culinária caseira, os textos deveriam ser de fácil compreensão para não confundir.
Anamarildo é um adolescente trapalhão e lesado. Demora para aprender, perde-se em detalhes, mistura tudo. Saiu ao pai, avoado e mané. Andou com 3 anos de idade, mas só aos 4 falou “papai”. Aos 5 anos já falava “papai” para a pessoa certa, mas por pouco tempo, pois Amarildo, o genitor, largou o emprego de soldador, fugiu com a vizinha e foi trabalhar como vigia num restaurante.
Na escola, Anamarildo era um fracasso e só não sofreu bulling por ser ótimo corredor. Ganhava todas as competições do colégio. Tinha pontaria certeira com o estilingue e era bom de briga. A diretora pediu tolerância aos professores, mas mesmo assim ele cursou cada série duas vezes. Alguns o aprovavam só para não tê-lo como aluno novamente: era chato, questionador, não aceitava as explicações e se confundia com a lição. O universo nunca deu a mínima para ele.
Bem apessoado, fez sucesso com as garotas por conta por ser atleta, mas nunca namorou. Tem dificuldade para entender sarcasmo, ler situações sociais e manter amizades. O jogo de cintura zero e a extrema sinceridade o tornam mais frágil que um pernilongo anêmico e sem asas.
Ana, sua mãe, quer descobrir uma vocação para ele. Ela trabalha o dia todo e deixa a comida pronta para o filho requentar quando chega do colégio. Ele gosta de decorar os pratos e postar fotos no Instagram, muitas vezes de cabeça para baixo. Descobriu que ele come comida fria porque não consegue “acender” o micro-ondas. Ana acha que o pai devia ar mais tempo com o garoto para ajudar a encontrar alternativas para seu futuro, mas o próprio Amarildo não tem futuro algum. Sua ausência preenche uma lacuna!
No dia do aniversário da mãe, ele voltou da escola pensando em surpreendê-la com um jantar requintado e escolheu pratos sofisticados na Internet: saladas, carne, peixe, pasta e sobremesa, mas tudo se complicou com a linguagem ilógica, estranha e difícil de entender. Parece que as receitas culinárias foram escritas de modo a não dar certo. Duvidam?
“Acrescentar uma pitada de sal, pimenta a gosto e marinar por uma hora. Fraldinha é boa opção. Selar a carne e estofar. Se preferir, pode saltear.”
Tudo errado, pensou Anamarildo. Peixe vem do mar, carne não! Por que marinar carne? Fraldinha? De qual tamanho? De pano ou descartável? Pitada é medida de volume ou de peso? Existe medidor de pitada? A gosto se escreve junto: Agosto. É para colar selo na carne? Estofar com penas ou palha? Saltear é ficar saltando?
“Raspe a bacia da batedeira com o pão duro para depois marmorizar.” Tudo bem, refletiu o rapaz. Nossa pia é de granito, que é parente do mármore. Deve servir. É pão de forma ou pão francês? Se não tiver pão duro, serve pão fresquinho">
Nosso riso de sexta, garantido kkkk???
Obrigado amigo Abs.