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sexta-feira, 23 de maio de 2025

A Cidade De Dois Mundos

Ao amanhecer, a cidade desperta sob o mesmo céu.

O sol nasce por igual para todos, mas seus raios encontram destinos desiguais.

Há ruas onde o asfalto reluz e jardins são podados com precisão britânica; há outras onde a poeira sobe com o vento e o esgoto corre a céu aberto, indiferente às promessas do progresso.

As desigualdades urbanas não são novidade, são heranças silenciosas que se ampliam com o tempo.

Nos bairros nobres, o silêncio é sinal de paz. Nas periferias, é prenúncio de abandono.

Enquanto alguns desfrutam de ciclovias e parques bem cuidados, outros lutam para conseguir transporte digno e água encanada.

A cidade se parte em zonas que, embora vizinhas no mapa, vivem realidades que jamais se tocam.

É comum ouvir que o espaço urbano é de todos, mas há quem viva como intruso na própria cidade.

Um jovem morador da periferia precisa acordar três horas antes do expediente para cruzar a cidade em ônibus lotados.

Já no centro, alguém corre no calçadão, ouvindo podcasts sobre qualidade de vida.

Ambos respiram o mesmo ar, mas o fazem de pulmões diferentes um mais cansado, outro mais livre.

Os centros comerciais crescem, os arranha-céus sobem, os condomínios fechados florescem como fortalezas modernas.

Dentro deles, segurança, saúde e lazer.

Fora deles, espera-se pela sorte, pela vaga no posto de saúde, pela rua que talvez um dia seja asfaltada.

O tempo, esse bem intangível, custa mais caro a quem tem menos.

Desigualdade urbana não é apenas um desequilíbrio geográfico, é uma arquitetura social, moldada por décadas de escolhas políticas, de prioridades invertidas, de invisibilidades forçadas.

Há quem diga que a cidade é viva.

Se for, ela é uma criatura estranha, que estende os braços a uns e vira o rosto a outros.

E assim segue o dia, com helicópteros cruzando o céu acima das comunidades, com buzinas nervosas nos semáforos das avenidas largas, com crianças brincando entre entulhos e outras em parquinhos coloridos.

A cidade não é uma só.

É uma colcha de realidades costuradas com fios que raramente se cruzam. Ao fim do dia, todos voltam para casa.

Uns em apartamentos climatizados; outros, em vielas sem saneamento. A noite cai como um véu sobre desigualdades que nunca dormem.

E a cidade, dividida e resistente, espera pelo próximo amanhecer onde tudo recomeça, igualmente desigual.

Autor:

CARLOS ALBERTO OMENA

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