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domingo, 25 de maio de 2025

A CULTURA DO DESCARTÁVEL

Vivemos na era do efêmero.
Daquilo que nasce com data de validade antes mesmo de cumprir sua função.
A cultura do descartável não é um conceito novo, mas nos últimos tempos ela deixou de habitar apenas as prateleiras dos supermercados para se instalar, silenciosamente, nas relações humanas, nas ideias e até nos sentimentos.
Nos lares, embalagens são abertas com mais pressa do que são recicladas.
Plásticos moldam o cotidiano como uma segunda pele, presente no copo do café da manhã, na sacola que embala o pão, no lacre da água mineral.
Compramos para jogar fora.
Usamos para substituir.
O conserto virou anacronismo, uma atividade quase romântica.
Mais fácil é substituir do que reparar, apagar do que entender.
Nas redes, likes são consumidos com o mesmo apetite de fast food.
Conteúdos viram obsoletos em minutos.
Perfis são seguidos e esquecidos em um piscar de tela.
Até o tempo parece ter sido contaminado por essa pressa pois o que não é imediato não interessa.
A paciência, como os objetos duráveis, também foi colocada de lado.
Essa lógica se estende às relações.
Pessoas são afastadas ao menor sinal de imperfeição.
Amizades não resistem a desacordos; amores sucumbem à primeira dificuldade.
Tornamo-nos, aos poucos, colecionadores de histórias inacabadas, de conexões rasas, de memórias que mal tiveram tempo de amadurecer.
O descartável é prático, econômico, funcional, ao menos na superfície.
Mas a longo prazo, cobra caro.
O meio ambiente dá sinais.
Os oceanos, impregnados de lixo, gritam em silêncio.
A saúde mental, soterrada por estímulos instantâneos e laços frágeis, também sinaliza desgaste.
Talvez ainda haja tempo de reverter.
Redescobrir o valor do durável.
Do que se cultiva, se cuida, se conserva.
Seja um objeto, um afeto ou uma ideia.
Porque, no fundo, a permanência ainda é uma forma de resistência.
E resistir, hoje, pode ser tão revolucionário quanto simplesmente não descartar.

Autor:

CARLOS ALBERTO OMENA

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