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sexta-feira, 23 de maio de 2025

A Selva Humana: Entre Lobos e Santos

Por trás da cortina civilizatória que nos envolve, a natureza humana parece se despir da bondade idealizada por Rousseau. A cada novo ato de violência, injustiça ou dominação, a tese de Hobbes — de que o homem é o lobo do homem — ressurge com força assustadora. Vivemos numa selva moderna onde o poder, antes concentrado, agora se esparrama por todos os cantos: da autoridade paterna corrompida ao controle silencioso dos altares.

Na base dessa estrutura fragmentada de poder, encontramos o lar — local que deveria ser refúgio —, mas que muitas vezes abriga abusos disfarçados de disciplina. E a cadeia, com seus muros e grades, apenas espelha o que a sociedade tolera em liberdade. Até mesmo nas igrejas, que se pretendem santuários de amor e fé, reproduzem-se formas de controle e opressão.

O abuso ali vai muito além do físico. Ele veste a máscara da moral. Impede jovens de usar brincos, frequentar praias ou fazer amizades fora do círculo da fé. Mulheres, muitas vezes, são levadas a aceitar agressões em nome de uma união “abençoada por Deus”. A religião, como apontava Feuerbach, parece inverter a lógica da humanidade: projeta em Deus não o que Ele é, mas o que o homem gostaria de ser — ou teme enfrentar em si mesmo.

A fé, então, deixa de ser libertadora para se tornar cárcere. Apoia-se no mito do pecado original como desculpa conveniente para justificar a maldade humana. Uma fuga metafísica que mascara responsabilidades bem concretas. E assim, seguimos: entre santos e lobos, em uma selva onde a bondade é exceção e o domínio sobre o outro, regra.

Wildenaik C. Goncalves
Wildenaik C. Goncalves
Graduado em História, Graduado em Filosofia. Especialista em Filosofia Contemporânea, Extensão Acadêmica em Política, História e Sociedade, Especialista em Ciências da Religião, Graduando em Farmácia.

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