O diploma de ensino superior ainda é um dos principais símbolos de conquista pessoal e profissional no Brasil. No entanto, por trás das fotos sorridentes na colação de grau, há uma realidade silenciosa que atinge cada vez mais jovens universitários: a exaustão física, emocional e mental. Pressionados por rotinas intensas de estudo, trabalho, estágios, responsabilidades familiares e cobranças sociais, muitos estudantes enfrentam episódios de burnout antes mesmo de completarem 25 anos.
De acordo com uma pesquisa da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), mais de 63% dos universitários relataram já ter enfrentado sintomas relacionados à ansiedade ou esgotamento emocional durante a graduação. Entre os alunos que acumulam estudo com trabalho, esse número ultraa 70%. Em muitos casos, os sintomas incluem insônia, cansaço constante, dores físicas, dificuldade de concentração, crises de ansiedade e até depressão.
O fenômeno, que antes era mais comum entre profissionais do mercado de trabalho, tem se tornado recorrente entre estudantes universitários. O termo “burnout acadêmico” já é reconhecido por psicólogos e psiquiatras, caracterizando um quadro de exaustão gerado pelo estresse crônico relacionado às obrigações da vida acadêmica. E os fatores são muitos: excesso de carga horária, provas consecutivas, trabalhos extensos, concorrência por bolsas ou estágios, medo do futuro e a constante busca por produtividade.
Além disso, a cultura do “aluno ideal” que estuda, trabalha, participa de projetos, faz estágio, cuida da casa e ainda mantém a vida social ativa, tem se consolidado como um modelo irreal e altamente desgastante. Para jovens de baixa renda, que muitas vezes precisam sustentar a própria formação, o desafio é ainda maior. A falta de tempo para descanso, lazer e autocuidado se torna rotina, e a saúde mental a a ser negligenciada.
As universidades, embora comecem a discutir a saúde emocional dos estudantes com mais atenção, ainda apresentam lacunas. Poucas instituições contam com e psicológico suficiente para atender toda a demanda. Além disso, há estudantes que evitam buscar ajuda por medo de parecerem frágeis ou incapazes. “Não dá tempo de parar, e quando percebi, já estava no limite”, relatou uma estudante em entrevista à imprensa em 2024, ao falar sobre sua crise de ansiedade no meio de um semestre letivo.
Outro agravante é a pandemia da COVID-19, que, mesmo com o retorno às aulas presenciais, deixou sequelas emocionais profundas em muitos jovens. O isolamento, o ensino remoto e as perdas familiares agravaram quadros de ansiedade e depressão, que muitos carregam até hoje. Com a retomada da normalidade, veio também a pressão para “recuperar o tempo perdido”, o que gerou uma sobrecarga ainda maior.
Diante desse cenário, especialistas em saúde mental defendem uma mudança urgente na estrutura e na cultura acadêmica. É preciso repensar não só a quantidade de conteúdos e provas, mas o modelo de ensino e a forma como se mede o desempenho dos estudantes. O cuidado com a saúde emocional deve fazer parte do currículo tanto quanto qualquer disciplina obrigatória.
Algumas universidades já começam a adotar políticas de acolhimento, como rodas de conversa, plantões psicológicos, ações de escuta e flexibilização de prazos em situações de crise. No entanto, essas iniciativas ainda são pontuais. Para muitos estudantes, o o ao cuidado psicológico ainda é um privilégio.
O problema também chama a atenção das empresas. Diversos relatos apontam que estagiários e recém-formados chegam ao mercado de trabalho já exaustos, o que acende um alerta sobre o impacto da formação universitária na saúde de toda uma geração.
Enquanto isso, cresce nas redes sociais o número de páginas e perfis que falam abertamente sobre esgotamento acadêmico, propondo reflexões sobre a romantização da produtividade e a importância do equilíbrio. Muitos jovens têm buscado alternativas como a terapia, o apoio entre colegas e até a desaceleração — quando possível — como formas de preservar a saúde mental.
Em um país onde a juventude ainda enfrenta desigualdade, falta de oportunidades e altos índices de evasão escolar, a exaustão universitária se torna mais uma barreira invisível que compromete o futuro. Mais do que uma tendência, o burnout entre estudantes é um grito por mudança: por uma educação mais humana, saudável e possível.