Havia um quarto na casa que nunca chegou a ser habitado.
Pintado com esmero em tons suaves, cheirava a promessa e esperança.
O móbile preso ao teto ainda girava lentamente quando o vento ava, como se procurasse olhos curiosos que jamais se abriram.
Ali dentro, o tempo parecia ter parado não por esquecimento, mas por respeito.
Ela ava por aquela porta entreaberta todos os dias.
Às vezes parava, só por um segundo, só para sentir o que não foi.
Uma presença ausente que preenchia tudo.
O silêncio ali era mais denso, como se o vazio tivesse peso e nome.
Ela havia sentido aquele pequeno coração bater dentro dela, uma vida tão breve, mas inteira.
Planejou o nome, bordou as primeiras letras em toalhinhas de linho.
Comprou um sapatinho minúsculo, como quem compra um futuro.
E um dia, sem explicação que bastasse, o ventre se calou.
A notícia chegou como um inverno súbito.
Frio. Cru.
Tudo o que era sonho virou eco dentro dela.
Não houve berço embalado, não houve choro inaugural.
Só um corpo cansado e um coração em luto, que ninguém via.
As pessoas foram voltando às suas rotinas, mas ela não.
Parte dela ficou ali, entre fraldas jamais usadas e histórias que nunca serão contadas.
Não havia lápide, não havia certidão de nascimento.
Mas havia memória e memória também é lugar.
Na prateleira do quarto repousa um urso de pelúcia.
Um vigia fiel de um amor que existiu, mesmo sem testemunhas.
Um amor que não precisa ter durado para ter sido imenso.
Porque ser mãe não depende do tempo que se tem um filho nos braços.
Às vezes, basta tê-lo por um instante no coração.
E ela teve.
Ainda tem…
Autor:
CARLOS ALBERTO OMENA