Falar de diversidade virou moda. Toda grande empresa tem seus squads: de gênero, de raça, de orientação sexual, de ibilidade. São causas nobres, legítimas — e que geram engajamento, palmas em eventos, likes nas redes e até selo ESG. Mas tem um tipo de diversidade que raramente entra na roda. Não é sexy. Não vira pauta de campanha publicitária. Não emociona o marketing. E, ainda assim, está ali: escancarada, urgente… e ignorada.
Falo da diversidade etária — o verdadeiro elefante branco na sala das organizações.
Hoje temos, no Brasil, mais de 57 milhões de pessoas com mais de 50 anos. Isso representa quase 30% da população. E sabe quantos estão nas empresas, trabalhando, criando, liderando, gerando valor? Muitos. Mas quase nenhum deles está incluído nas conversas sobre inclusão. É como se envelhecer descredenciasse a pessoa de contribuir — justo numa era que grita por experiência, sabedoria e visão estratégica.
Enquanto isso, os mais jovens chegam com força. A faixa dos 20 a 30 anos soma cerca de 32 milhões de brasileiros — jovens que cresceram em um mundo conectado, veloz, multitarefa. Já a faixa dos 31 a 50 anos representa aproximadamente 56 milhões de pessoas — o grosso da força produtiva do país. Em resumo? As empresas estão sendo geridas, alimentadas e movimentadas por três grandes blocos etários. Mas seguem tratando isso como se fosse detalhe, e não estratégia.
Vejo empresas fazendo malabarismo para entender a Geração Z. Fazem workshop, contratam consultoria, criam campanhas “cool”. Mas ignoram a riqueza que existe em promover encontros profundos entre as gerações. Gosto de dizer que focar em gerações isoladas é olhar pelo buraco da fechadura. O que precisamos é abrir a porta e cultivar conexões intergeracionais, não apenas políticas multigeracionais.
Eu mesmo venho, há anos, provocando corporações sobre isso. Batendo na tecla de que não basta mapear gerações. É preciso decodificá-las. Traduzir seus códigos. Criar laços. Porque o tempo, quando bem trabalhado, vira ponte — não muro.
A ausência de squads voltados à diversidade etária revela uma verdade incômoda: não sabemos lidar com o tempo. Temos medo dele. Fingimos que ele não nos afeta. Mas o tempo está dentro de cada sala de reunião. Está nas diferenças de ritmo, de vocabulário, de valores. E ignorá-lo é, no mínimo, um erro estratégico.
Quer inovar de verdade? Misture um analista de 23 anos com uma gerente de 58. Dê um projeto a eles. E observe o que acontece. Porque a potência não está na idade — está no encontro. O que falta nas empresas não é juventude ou experiência. É diálogo real entre o ontem, o agora e o amanhã.
O futuro não é feito apenas de tecnologia. Ele será moldado pela inteligência de quem sabe ouvir e aprender com o outro. E o “outro”, nesse caso, pode ter nascido nos anos 50 ou em 2005. Importa pouco.
Entender e decodificar as gerações é a grande força emergente atual
Por Willians Fiori
Wil Fiori é um dos grandes nomes sobre diversidade geracional no Brasil, liderando transformações no mercado há mais de 20 anos. Estrategista e inovador, ajudou a construir marcas icônicas como Bigfral, Addera e Benegrip, deixando sua marca em gigantes como Hypera e Ontex Global. Reconhecido globalmente, foi citado no livro Longevity Hub do MIT (Massachusetts Institute of Technology) como o principal especialista brasileiro no tema. Professor do Hospital Israelita Albert Einstein e convidado da FIA, UFRJ, PUC-SP e INSPER, leva o futuro da longevidade para o centro das discussões. Seu impacto já rendeu prêmios da ONU Latin America e o Selo Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo.