Sentada no sofá de sua casa, Ana refletia sobre como estava numa fase leve de sua vida. Depois de quase uma década lutando contra a depressão, ela se pegou sentindo uma paz jamais sentida antes. Por alguns instantes pensou que não estava vivendo a realidade, pois os médicos tinham desenganado seu quadro de saúde, pois não acreditavam na recuperação dela. Mas, o tempo, ah, o tempo!, ele é o Senhor de tudo e tudo foi se encaixando aos poucos como ele quis. E, pensando nisso, Ana deixou o tempo se encarregar de organizar tudo e ela estava desfrutando do prazer de estar bem agora.
Mas, para isso acontecer, Ana teve que se esvaziar de tudo que a feria, tudo que fazia mal à ela e que a fazia ter gatilhos para a depressão. A primeira tomada de decisão, e a mais difícil para ela, foi pedir demissão. Essa decisão foi a mais difícil que ela já havia tomado em sua vida, mas quando assinou aquele documento eletrônico, uma descarga de emoções brotou dentro dela: um misto de medo e alívio.
O medo, como é de se esperar, paralisou-a por alguns instantes, mas logo foi substituído pelo alívio de estar livre do lugar que mais a adoeceu.
Longos anos se aram naquela organização que a sufocou por uma década. O sentimento de se sentir presa naquele lugar era tão surreal ao ponto dela pensar em desistir de viver todos os dias. Mas, veio o alívio e com ele a sensação de ter cumprido a sua missão naquele lugar.
A gratidão que sentia por ter trabalhado tantos anos naquele lugar era um fato. Ela jamais se esqueceria dos bons momentos vividos ali, mas, infelizmente, os momentos ruins sufocaram os bons e ela teve que apertar a descarga e deixar vir águas novas em sua vida e, de longe, foi a melhor escolha que ela já fizera em sua vida.
O medo bateu em retirada e o alívio pegou em sua mão e a conduziu para momentos de verdadeira libertação espiritual e psicológica.
A leveza com que ela levou a vida a partir de então, a deixou ter momentos de plenitude e, confiante, acreditou em dias imensamente melhores.
Não seria fácil, mas, não seria impossível.
A dor inável que ela vivera naquele lugar que, por décadas, foi tido como porto seguro para Ana, bateu em retirada e ela deixou-se esvaziar dos momentos de tortura psicológica e foi viver sua vida sem pensar na perda, mas nos ganhos psicológicos que viriam a partir do momento em que ela fez aquela escolha.
Jurando a si mesma ser forte para os próximos capítulos, Ana ou a ver a vida com mais leveza, se contentando com o pouco e o simples. O pouco era muito para ela e o simples era magnífico e ela, enfim, pode descobrir o que era ter paz.
Autora:
Patricia Lopes dos Santos