A praça dos Três Poderes estava mais lotada do que a avenida Paulista em dia de Parada LGBT. Para dificultar eventual invasão do prédio, a Polícia Legislativa fechou os os. Ninguém entra e ninguém sai. Os parlamentares receberam dúzias de mensagens com ameaças e xingamentos e a presidente Huga Matta mandou bloquear o sinal, interrompendo a comunicação entre a Câmara e o Brasil real.
Pessoas portando faixas protestando contra o aumento do IOF, sigilo de 100 anos nos documentos do governo, excesso de gastos dos Poderes e os 2,7 milhões de pessoas na fila da aposentadoria foram impedidas de entrar no recinto para não tumultuar os trabalhos. Entraram apenas manifestantes profissionais com cadastro e crachá.
No Plenário, o ambiente é tenso. Sindicalistas defendem jornada 1 por 3 no Serviço Público (1 semana de trabalho, 3 de descanso), aposentadoria integral aos 50 anos e Vale iPhone para funcionários e familiares e, espremido num cantinho, infiltrados tentam exibir faixas pedindo melhorias na Segurança, Saúde, Educação e a imediata devolução dos descontos dos aposentados.
Na Tribuna, Parlamentares discursam sobre os reflexos da importação da Labubu, a boneca colecionável criada em Hong Kong que virou febre no Tik Tok e que pode reduzir o faturamento das BETs. Na ordem do dia, pedido de urgência para aprovação do aumento de salário e benefícios para suas excelências e aquisição de carros elétricos blindados para uso de cônjuges e amantes.
Após a pausa para o cafezinho de confraternização com os companheiros da Galeria, aconteceu algo inusitado e impensável: Ocupação! Nunca antes na história do país, em plena democracia relativa, alguém imaginou Ocupação no Parlamento.
Poucas vezes Situação e Oposição se uniram em pról de uma causa que não fosse em benefício próprio. Junto com os companheiros da Galeria, os Parlamentares improvisaram faixas com dizeres: ABAIXO A OCUPAÇÃO! DESOCUPAÇÃO JÁ!; A LEI DO VENTRE LIVRE ESTÁ EM VIGOR! Também se viu uma faixa pedindo FORA ANCELOTTI!
A presidente Huga Matta mandou desbloquear os telefones para pedir ajuda e a notícia vazou, mas com informações contraditórias. O país parou para acompanhar a crise no Parlamento sem entender o que acontecia. Como a mídia não pode cobrir in loco, divulgou com base nos dados reados por Hackers e alguns “X-9”, sob sigilo da fonte. Adeptos da Teoria da Conspiração relacionaram o fato à outras crises famosas da humanidade: Baile da Ilha Fiscal (gestão de Dom Pedro II), Bill e Mônica no Salão Oval, o Tapa da Brigitte no Macron, os dólares na cueca, a Marcha da Maconha e até o afastamento do presidente da CBF.
Enquanto rolava a Ocupação, a Corte analisava o direito à herança e regime de cotas para bebês Reborn, as Forças de Segurança planejavam invadir o Parlamento e a Inteligência tentava identificar os mandantes. O Presidente antecipou o retorno da visita à OMS, onde negociava vacina contra Fake News, para criar o Ministério da Desocupação e a Fazenda estuda como taxar os ocupantes.
O posto médico do Congresso registrou aumento nos casos de febre, taquicardia, sudorese e problemas intestinais, tudo decorrente da Ocupação. Ninguém estava preparado para tamanho caos e a Mesa Diretora da casa cogita liberar verba extraordinária para instalação de hospitais de campanha.
Ao saber da Ocupação, Chico Chaves, auxiliar de cozinha do bufê que serve o cafezinho, decidiu agir. Bateu ameixa seca com leite no liquidificador e adicionou suco de amora. Preparou muitos litros de limonada com Maizena e, com a ajuda de faxineiros, distribuiu as receitas caseiras nos banheiros da casa, todos ocupados. Em poucos minutos, o papel higiênico acabou, mas a desocupação teve início.
Aclamado como herói, Chico Chaves explicou que, com o café a mais de R$ 80,00 o kilo, o bufê comprou um tipo similar, genérico. Quem tomou o café falso normal, teve prisão de ventre e quem tomou o descafeinado, teve diarreia. O resultado foi a maior ocupação de latrinas no Parlamento e mal estar para os que precisavam se aliviar e não conseguiam o aos sanitários.
A Polícia do Congresso comemorou o fim pacífico da ocupação dos sanitários. Em vez de reiniciar os trabalhos, a presidente Huga Matta suspendeu a sessão e correu para casa ao saber que sua bebê Reborn tinha fugido. Enquanto isso, aposentados aguardam solução para os descontos em folha não autorizados. Vida que segue.
Laerte,
Genial como você mistura no mesmo tacho labubu, bebê reborn, alta do café, aposentados roubados, parlamentares roubando, bet…
Vida que segue e eu continuo seguindo suas crônicas…